Páginas

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Querido ex

      Não sei se sabe, mas depois que você se foi eu me torturei um pouco com tudo o que vivemos. Questionei. Duvidei de mim mesma. Me culpei. Lembrei do nosso primeiro beijo que se encaixou perfeitamente. As nossas expectativas que se encontraram, os nossos destinos que se cruzaram. Eu não conseguia acreditar que tudo o que vivemos juntos acabaria dessa forma. Você sumiu. Partiu sem se importar. Eu precisei de você, cê não apareceu. Eu te chamei, você mentiu. Implorei que você viesse, cê não veio. Eu presa, você livre. Tive que me virar sozinha e você por aí. Torci pra que chegasse o momento de te esquecer, e só lembrava. Jurei não mais me importar, e só me importava. Deixei de te seguir, mas acompanhei seus passos pelas redes sociais.
      Você me fez feliz. Me fez bem pra caramba. Me esforcei pra ser quem você esperava que eu fosse. Fiz inúmeras coisas pra te impressionar e tive as reações mais ridículas pra te ter por perto e não te perder. Eu só não conseguia entender como cê teve a coragem de ser tão frio comigo. Me contou sobre você, permitiu que eu entrasse na sua vida, me apresentou aos seus pais, me fez conversar com seu melhor amigo. Me convidou pra dormir na sua casa, me levou pra provar as suas tardes, permitiu que eu entrasse em suas manhãs e aproveitasse suas noites. Me levou pra uma sexta-feira que nunca mais esqueci. Passei por todos os dias da semana com você, e incontáveis horas ao teu lado. Organizei seus compromissos porque cê não tinha tempo, te acordei porque você dormiu e não ouviu o despertador tocar. Te atrasei pro trabalho, cê me atrasou pra aula da quarta-feira com aqueles pedidos pra ficar mais um pouquinho. Te trouxe pra minha vida, fiz morada em tua vida, acampei em teu peito, viajei pra um lugar que não sei bem explicar, só sei que foi duro aceitar a viagem de volta.
      Saudade? Eu tinha às vezes. Saudade de quando você cozinhava pra mim. Saudade de quando cê preparou sua vida pra mim, quando você permitiu que eu entrasse e fez com que eu me sentisse a vontade. Saudade eu tive de quando você me perguntava – com um tom de ciúmes – quem era aquele meu amigo. Saudade eu tinha do teu beijo na escada, na escadaria do teu prédio, na poltrona do cinema de um filme que a gente nem se importava em assistir, na praia, em viagem, nas festas, na rua, no elevador, na cozinha e em todos os outros lugares que passamos juntos um dia e hoje não passaremos mais. Saudade eu tive de te abraçar por trás, de passar a mão no seu rosto, de olhar em teus olhos e me descobrir em você, de olhar nos teus olhos e sentir o teu beijo sem precisar te tocar. Saudade eu tive de quando você me esperava, de quando eu respeitava o seu atraso, de quando aceitava a minha vida como ela sempre foi. Saudade eu tinha de quando você bagunçava minha vida toda, mas voltava pra arrumar.
      Vi que você se envolveu com alguma tatuada e eu me culpei por não ser tão rock. Você conheceu uma pessoa alta e eu me culpei pelos meus 1,61. Soube de uma mulher forte e eu me culpei por não ter tanto porte assim e ser fraca ao ponto de chorar ao te ver bem sem mim. Me culpei por não ser negra. E por não ser loira. Por não ter olhos verdes e por não beber. Acordei depois das 13. Assinei Netflix. Passei um domingo inteiro assistindo filmes. Neguei convites. Dispensei tanta gente legal que queria ficar comigo. Perdi a disposição de conhecer outras pessoas porque todo mundo parecia igual e a essa altura do campeonato, era melhor eu me proteger. Achei que se ausentando do amor e negando as oportunidades que ele me dava era uma boa opção pra não me machucar de novo. Foi uma péssima opção.
      Só quero te dizer que não precisa mesmo falar comigo outra vez, nem tentar se explicar. Eu já encontrei todas as explicações pro que você fez, já entendi que a culpa não foi minha e que se ausentar pro amor por um mero principiante é um erro. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário